Fuzilei-me

Posted by Ramon S Rosa | Posted in | Posted on 17:13

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Fuzilei-me. Entre pedaços de meu corpo espalhados pelo chão de ferro, alguns sinais de boa esperança. Graça irreverente e ironia que seduz ao mais sóbrio caboclo residente: existia ali, vida. e espalhado pelo chão sujo, sujo de mim mesmo, num espetáculo dramático típico da mais contemporâneo arte, vulgar ao ponto da atenção extemporânea minimalista do ser, encontrei novo. Inóspito, demodê, sóbrio e insalubre. Era como se fuzilar-me exacerbasse todo meu eu, e lançasse ao vento o grito que jamais quisera dar. Após o ato, espalhado pela diversidade de chão sujo, pedras, pisadas em falso, desvios de sobriedade, desligamentos santos, maldições programadas, fiquei-me a espera do socorro. Espalhado ao chão. Meu interior dilacerado no estopim do projétil cuja a finalidade não era a finalidade. Ninguém me ajuntou. Fuzilei-me e, de fora, reajuntei apenas o necessário. alguns pedaços continuarão apodrecendo sobre a sujeira do chão, sob a luz do inferno solar, à mercê dos abutres. A carne podre e fétida, para trás, será celebrada não sob o sol escaldante. Não sobre o chão sujo de ferro.
Estou carregando e remontando meu quebracabeça, agora. Reajuntar pedaços não é uma tarefa impossível. Fuzilar-se, sim. O gatilho pesa. Pesa uma vida. Pesa duas vidas. Pesa lágrimas. O gatilho, responsável pelo momento de partir, de espalhar, traz um peso enorme. Pudera eu avaliar o peso, estando de fora da balança. Ocupo-me em manter os abutres distantes do que reaproveitei de mim. Reconstruir-me após o trauma de um disparo, mata-me. E eu morro todos os dias, realizado por deixar esse desejo de fim, bem lá no início. E pode ser que seja o outro início. Ou o fim de recomeço. Ou o primeiro disparo. Estou correndo contra o tempo.  Sozinho.

mapa

Posted by Ramon S Rosa | Posted in | Posted on 17:11

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meu mapa me guia
e nas ruas já conhecidas entre tantas idas
E vindas, por ai, paro:
Tu entras em meu carro e nosso tempo dispara.
Ele graceja comigo, esse tal tempo,
e num relance entre amor e perigo,
caminhadas e riso a beira do amor,
do amar, e toda vitória, romaria e ponte.
Meus olhos procuram os seus  sempre repousam no negro brilho de um olhar pudera ingênuo, literário e poético.
Ele revela a alma artista,
O vocabulário transita entre a idade
Entre o intelectualismo
Entre a paixão
Entre Deus e o abismo.
O olhar passeia e caminha pela vida
Mas não encontra o meu.
Desvia.
Em mim, se perde.
Em mim, sorri, o negro dos olhos
Tímido,
Sonolento.
 Acabou
Vamos.
Obrigado pela noite.
Que noite linda. Boa noite.
meu mapa me guia
e nessas ruas desconhecidas,
Entretanto, idas e idas,
nao. Paro.
Deixe-lhe,
o tempo graceja todo tempo
revolve-me ao perigo
incerto,
sonolento.
Beijo-lhe em sonho.

batucando

Posted by Ramon S Rosa | Posted in | Posted on 17:10

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batuco os pés
No chão, tapete e sofá
ritmando o pulso
O embaralhar da emoção
E o espaço-tempo
De mim a você alonga-se, alonga-se, alonga-se…
batuco os pés marchando pela casa
Feito homem feito
Soldado universal do amor
Tapete empoeirado como cama
Homem feito homem, ama!
Batuco,
Tilintar

pratos feitos pratos prontos
Servido?

À mesa, amor e poesia
Prosa
Companhia
Jazz dança, solidão?
Esperança!

À mesa, o toque
Batuque, o beijo
O filme,
Nós.

Batuco demodê que sou
Quem fui, quem era
Fora de foco, enxergo
“Te amar pra sempre” - quimera.

Ao chão, tapete e sofá
Ritmando o peito
Estás feliz? Estamos!
Amar: estou sujeito.


Ramon Rosa - 8 abril 2018

permita-me de pé

Posted by Ramon S Rosa | Posted in | Posted on 17:08

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estou jogado às moscas assistindo ao filme passar. Revezo, aqui acolá à poltrona que traga um mínimo conforto ao dramalhão pouco bilhetado - um fracasso de sessão.  Acompanho as chineladas com meu amado gosto e enérgico gozo da cafeína no sistema, enquanto o protagonista agoniza na mornidão ociosa sequelada da dramática obra demodê da década de 90. Assintomático. Nisso, rodeio entre dissoluções aos dilemas mais elementares da existência intelectual, reproduzindo os preconceitos politizadores e polarizadores do contexto a que escrevo e a quem escrevo - espero.
Permita-me o sofá.
Há tantos detalhes a serem esmiuçados! O cobertor não me esquenta mais, talvez precise de meias novas, e essa calça já nem me cabe. Estou jogado às moscas, por aqui elas são insistentes. Deveria ao menos aprender com elas. Já aprendi. O filme alonga-se em noites, dias de sol chuvosos, e corre alguns quilômetros à frente! Às vezes vale a pena. Quase sempre. Mas é um fracasso de bilheteria. Que bom que o é. Sessões em cinema, holofotes, duram pouco tempo… o filme não parece acabar logo. Esse café está deliciosamente amargo. É corrida que me falta.
Na certa as moscas riem umas para outras enquanto me apodrecem no toque - mal sabe ele, mal sabe ele, mau! - na certa tramam para o fim do filme, na certa se contorcem de gozo.
Permita-me de pé.

qualquer um

Posted by Ramon S Rosa | Posted in | Posted on 17:07

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qualquer um escreve um livro
Conta uma história
Vive um sonho
decora um versinho
Rima pobreza
Rima riqueza
Faz da desgraça,
Beleza.

qualquer um escreve um livro
Conta uma história
Vive um sonho
decora um versinho
Rima pobreza
Rima riqueza
Faz da desgraça,
Beleza.

qualquer um escreve um livro
Conta uma história
Vive um sonho
decora um versinho
Rima pobreza
Rima riqueza
Faz da desgraça,
Beleza.

qualquer um escreve um livro
Conta uma história
Vive um sonho
decora um versinho
Rima pobreza
Rima riqueza
Faz da desgraça,
Beleza.

qualquer um se descreve num livro
vive numa história
Refaz o sonho em memória
Se esquece do verso
Louva pobreza
Desfaz da riqueza
Faz da desgraça
Grandeza!

desenhando poesia

Posted by Ramon S Rosa | Posted in | Posted on 17:05

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alguém, algum dia
desenhando poesia
pediu-me ajuda na arte

e desenhamos curvas
Propusemos tardes
Sóis à meia noite,
Luais ao beija flor.

alguém, noutro dia
desenhando poesia
chamou-me lagoa

trouxe o mergulho
Remo, canoa
e me afogou no passado

noutro dia, alguém
desenhando poesia
estrelou o palco da vida
chorou cada amor, cada partida
nos acordes do meu violão

E eu, desenhando amor
poesia e paixão,
Beijei-lhe a testa.  

disse-lhe te amo: sem dizer.
prometi-lhe felicidade: sem prometer
E refiz todo meu futuro

Alguem, algum dia
desenhando poesia
traçará meu corpo

e rimando, escrevendo a melodia
Traçará seu corpo
E a arte, enfim estará pronta
de novo.




trouxe tudo

Posted by Ramon S Rosa | Posted in | Posted on 17:03

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trouxe tudo novo
a arte pintou o céu de rosa
Azul e o branco misturou tudo
Num entardecer capixaba
e numa corrida pela felicidade diária.
nova canção, poesia, nova rima.
Autores, fatos, conversas.
Nova voz.
trouxe tudo novo.
Trouxe o centro da cidade
O bucólico sentimento de paz,
Análise textual
O amor pela gramática,
A arquitetura poético destrinchada no livro
O presente de 26 anos,
Versilo numa versão psicodélica.
a comida, a ligação de felicidade,
a lei.
trouxe tudo novo
O esboço do futuro
o medo do incerto
o passeio pelo inseguro.
O conhecimento do bem
O conhecimento do mal
Trouxe alívio
Trouxe companhia
Trouxe dor.

Trouxe tudo novo,
de novo.
mas não trouxe amor.

Erótica

Posted by Ramon S Rosa | Posted in | Posted on 17:01

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água quente e
lombos frios e
peitos e pelos,
e braços
e arrepios e lábios
e toques.

a alma lavada:

desce no ralo,
a pele antiga,
os lombos são limpos
E os olhos enxergam

O sabor das línguas
nos pêlos molhados.
os braços fortes
os corpos nus

a água revela o passado
leva o passado
lava o passado
Apaga o passado?

O calor acolhe
Abraça e excita
Inebria, entontece

Fascinação!
(Novo) amor,


Banho tomado.
Limpos:
corpos quentes
corpo nus em
curvas e suspiros

Ah! Erotismo saliente
construções prepotentes
E um Tiro no peito:
seja meu?
- Não

Sorte na vida

Posted by Ramon S Rosa | Posted in | Posted on 16:58

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Maldição, maldição
Por que me abençoastes?
Contradição
Um por todos, ninguém por ninguém.
Soma divide, parte e reparte.

Maldição, maldição
Por que me amparastes?
Tropeço, e me jogo em teu colo
Faminto de paz, inanição em minha arte.

Maldição, maldição
Por que me violentastes?
Cabeça, no peito, nas coxas
No colo carregastes meu sonho
Minha vida matastes.

Maldição, maldição
Por que me enganastes?
Pelas costas cravado
Traído ou amado?

Maldito, maldito.

Filho do mundo, maldito, maldito.
Morto na vida: bendito bendito.
Culpa e perdão: não vou e nem fico.

Maldição, maldição
Maldito, maldito.

Tiros no peito

Posted by Ramon S Rosa | Posted in | Posted on 16:54

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Eu Jamais iria supor.
Entretanto, me admiro não tê-lo feito
Descontinuei a contagem de dias
Me abri pro mundo: vários tiros no peito.

Houve um murmúrio, um silêncio sombrio.
Sobre o silêncio sombrio insólito.
me abri pro mundo: arrepios!
Me abri pro mundo: quem sou?

Eu Jamais iria supor.
Entretanto, me admiro não tê-lo feito
Descontinuei a contagem de dias
Me abri pro mundo: vários tiros no peito.

Eu jamais iria supor
Entre tanto, não me admiro em ter suposto.
E aposto o oposto
Que estou partido,
Sem rumo,
Desgosto
Saudoso e ferido:

Se a mim morrer fosse posto
Pudera eu lhe encontrar no proposto
E te abraçar em nosso paraíso.

Seria o canto, o brega
O santo e piegas

Não mais mancha,
E o “Adeus” - que se vai -
A feliz eternidade só será feliz
Ao encontro de meu saudoso pai!

sendo menos

Posted by Ramon S Rosa | Posted in | Posted on 16:52

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existir menos é um sério problema.
me é o inerente ser teimoso: se me querem menos, mais me quero ser.
hora e outra, hora ou outra, me rendo a pedidos. e menos existo, ao menos desisto.
se menor for o barulho.
se menor o infortúnio.
e menor for o prato.
e menor for espaço.
se menor for o contato.
se menores os convites.
se você cantar mais baixo. (Pra quê você existe?)
quanto mais me perguntam, mais eu existo. que teimosia, que paradoxo e que poesia!
quanto mais eu fui (e sou) abortado,
mais vida eu tenho em mim gerado..
e tudo estará bem, mais pra frente, e agora também.
existir menos não é uma tarefa fácil.
aonde me cabe,
onde será o meu espaço?
se a presença constante,
a ausência constante,
a música e o silêncio,
todos: incomodam!
hora ou outra me rendo a pedidos.
e existirei menos.
serei menos horas,
Menos risos,
Menos abraços.
menos fotos, menos comida
menos espaço.
serei menos filho, serei menos vergonha
Serei menos reforço,
menos culpado, menos desgosto!
mas, por agora, me é inerente ser teimoso!
existir menos exige muito esforço!
e, perdão,
Mas por vocês eu não estou disposto!