Corpo d'agua

Posted by Ramon S Rosa | Posted in | Posted on 11:32

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Um copo grudado noutro pecado

Um corpo solto daquilo do que foi mandado

Outrora vivido, ou mesmo calado

Virado às avessas do desejado

Pintado por lama, lavado na cama

Do indesejado, calado, num mundo fechado.

Um jarro de flores, belezas e cores

Que pintam o quadro que não quero ver

O quadro que chama, que grita e exclama

Do corpo d’água que pede você.

Minha casa melhor

Posted by Ramon S Rosa | Posted in | Posted on 14:13

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Minha casa nunca esteve melhor

Nunca tive tanta paz

Minha casa nunca esteve tão vazia

Tanto silencio, tão quieto, tão escuro

Minha casa nunca teve tanta falta

Tanta pausa, de falas, de passos

De espaços cheios de vazio.

Minha casa nunca esteve tão escura

Tão segura de viver

De passar os momentos

Que não existem na casa

Na minha casa segura, escura e vazia.

Na minha casa melhor. Ela nunca esteve.

Melhor.

Paradoxo

Posted by Ramon S Rosa | Posted in | Posted on 12:36

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Forme seu pequeno grupo
E no luto da perda da poesia à angustia, 
Transforme a solidão
Entregue o coração e siga cantando.
Tocando, forjando
Sentindo e mentindo, 
Pecando o arrependimento
De não cantar, não sentir, não amar
Drogue-se de melodias dissonantes
E harmônicos viciantes que não entendem a poesia do ar
Que caminham juntos e separados
Pelo canto e o bem tocado,
Sem o conjunto se conjuntar.
Sem o batuque ritmar o verso cantado
Armado para ser amado
Doado para ser doado, em forma de ar
De voz, sons, batuques e tons,
Que variam ao humor, de um belo tocador,
E do caro que compôs que sentiu e mentiu
Mas formou seu contexto e seu pretexto
Formado o pequeno grupo, de solidez e pouco estudo
De almas que alimentam música
De música que matam almas.
Paradoxo de uma canção,
Consequências do coração.

Antes da morte chegar

Posted by Ramon S Rosa | Posted in | Posted on 12:16

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Morri e sobrevivi a minha morte. Não se zangue diante da sorte do outro, do baixo, do torto.

Nem viva a morte do dom, talento dos sons. Os sons que vibram.

Sobreviva a sua sorte. A sua glória de sorte, que tudo canta, feito, largado.

Torne-se lançado ao movimento

Dos que cantam, vivem e morrem.

E se jorre às lagrimas os pontos mais fracos

O suor do que tinha tentado

A dor do zangado, e negado pelo que é

Dos que cantam, vivem, e morrem cada um por sua fé

EU sobrevivi a minha morte moral

Ao desapego do meu nada e total

Apego ao canto, pranto que tendo dar

Pra alguém que tenta, que morre, e vive, buscando escutar

A melodia que eu escrevia, antes da morte chegar.

Esperar pela morte

Posted by Ramon S Rosa | Posted in | Posted on 18:05

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Eu fui criado de forma ímpar. Aliás, todos nós fomos. Não há criação que se compare, não há construção de caráter que seja igual a outra. E sendo o filho único do casal, cresci assombrado com a possibilidade de alguma mudança. Qualquer uma. Um filho a mais, ou alguém a menos.
Cresci torturado com a idéia de que, superar o medo não era o suficiente. Conceitos que construía diante do espelho, eu comigo mesmo. Minha família, porém, já sabia o que eram mudanças.
As filhas casaram, mudaram, criaram. As coisas cresciam de tal forma! Daí mudou de novo. Um se foi, para sempre, logo após outra. A família resistia. Marcada pela mudança forçada do destino, da dor inesperada, da separação. A família resistia. Eu, porém, ainda não havia passado, não conscientemente, por nenhuma de tais mudanças. Meu mundo, o qual nunca ilusoriamente foi perfeito, não cogitava sequer a hipótese de uma grande catástrofe.
Mas eu cresci. E não me sinto totalmente equivocado em dizer que essa foi a maior de todas as catástrofes que já me ocorreram. Ser adolescente foi ímpar, como disse anteriormente sobre a criação. Era A IGREJA o lugar que me fazia feliz. Me encontrei nos barulhos e sons que viam lá de dentro, desde muito cedo, mas logo na adolescência o interesse tornou-se maior que a vontade de ver TV. E por lá eram horas passadas, horas ganhadas e outras que posso dizer , perdidas. E nesse mútuo interesse meu em mim mesmo, a música me descobriu. Não que eu seja algum músico renomado, ou algum conhecedor dessa arte. Mas o meu relacionamento com ela se tornou íntimo, mais do que pude controlar. As minhas invencionices não pararam na apreciação. Cantar, tocar, e até dançar. Sempre música. Sempre sons. Sempre. E foi na música que me escorei quando as mudanças vieram.
Ser adolescente é padecer sim, e não é no paraíso. Longe disso. Ser adolescente é não ser alguém definido, é ter todos os pensamentos do mundo unidos contra você, em você mesmo. Comigo, claro que não foi diferente. Posso deduzir que tenha sido mais intenso que isso. Minha adolescência foi divida em dois períodos. No primeiro deles, eu era o que não sabia ser por simplesmente ser. No segundo período, as obrigações de alguém que desconheço ( mas que tenho certeza que se chama senso comum) transbordaram minha capacidade de raciocínio pré concebida pra minha faixa etária: era hora de crescer. A adolescência terminou no inverno de 2007, com o fim de uma vida e o fim de outras duas. Foi nessa mesma época que descobri o que era uma mudança radical, daquelas que te colhem do campo, e te lançam na fornalha.
Daí por diante, aparentava força, mas a fraqueza de não ter me consumia. Mudou de novo. O outono seguinte não levou apenas a beleza das árvores consigo.
A responsabilidade de crescer pesava emocionalmente a ponto do insuportável. Foi a época da escolha, a época da troca, a época da falta. Foi quando o mundo que já era imperfeito, tornou-se cruel demais. Quando o ponto de apoio que já não existia, fez falta.
Mudou de novo. Agora, novos ares, nova família, novos sons. Os mesmos sons que outrora me apaixonaram, agora me assediavam a mudar. E muitas escolhas foram feitas, muitos comentários construídos, muitas imagens quebradas. Era a chance de mergulhar na música, mas ela silenciou ao estopim de um tiro. O outono de 2009 me fez tremer diante do que pensei estar distante. Fraco ou forte, não fazia mais importância. A mudança não anunciada acontecia, a saudade se eternizava.
Decidir por algo que não se quer, é difícil. E no inverno de 2010 o barulhento grito de socorro me chamou de volta. Ou eu pensei que o fosse. Voltei para o campo de batalha infindável, para o lugar de canseira e enfado.
Esperar pela morte nunca foi tão real para mim. Quando criança, com uma esperança cega de uma felicidade eterna, não tinha menção da dor que essa espera me causaria. Melhor, não digo dor, mas angustia. Ver alguém fazendo o mesmo, então, é ....
A velhice não me parece uma má ideia. Vendo daqui, de fora. Mas estou fazendo uma análise muito particular dessa fase da vida. Depois dessas tantas mudanças, enxergo a velhice como opcional. Ou talvez, como consequência do que antes foi opcional. E, agora, cuidar de alguém que vive esta fase é impactante. Conflitante o suficiente pra distorcer tantos conceitos que o espelho me ajudou a construir. Conflitante o suficiente para fazer uso de emoções como ódio e compaixão em segundos que se seguem. E a tal velhice que persegue traz a empatia como nova sensação. A saudade estampada ao olhar um retrato. A voz embargada, ora pela idade, ora pelo sentimento. A voz embargada, cheia de egoísmo e pudor, mostra para mim a realidade do que é esperar a morte: é a vida desesperançada.
O amadurecimento e envelhecimento de uma forte personalidade que, diante da solidão forçada, espera pela lentidão da morte, levanta diante de mim o peso de uma responsabilidade enorme. Os laços irrompíveis da família. O perdão, o amar incondicionalmente. Diante da espera pela morte, o que resta a minha futura mudança é arrumar o terreno. Preparar para um possível outono ou inverno, ou seja lá qual for a estação.
De uma criança crescida, a um jovem irreconhecível, não faço diferente disso. Espero.

E você é.

Posted by Ramon S Rosa | Posted in | Posted on 16:56

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Você quer saber se vai doer,
Tende a ver, a ler a expressões
Tende a ser ou dar opiniões,
Inventar um tanto de emoções
Que só dizem o que quer fazer, o egoísmo em que quer viver
O hedonismo dessa geração,
O achismo de sua compaixão.
Você tranca sua arma em si, sua palavra, olhar ou frase que,
Precisando defender o eu, do futuro de um mundo meu.
Você diz que ama muito mais,
Que agora sabe o que se faz
Quando ama de verdade alguém,
Quando chama e não vê ninguém
Você é ninguém que me conhece,
Faz do seu silêncio sua prece
Sua pressa em chegar a um lugar,
Onde você não é mais que sabe,
Quem escuta,
Quem desiste ou age.

Ninguém

Posted by Ramon S Rosa | Posted in | Posted on 17:36

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O meu lado da história de dor ninguém conta

Da vida de lado que tive

Revivi ao mesmo ponto

Ninguém lembra da fala

Do Eu quero, do não me faça

Nem de que faça mais.

A minha parte da história ninguém conta

Ninguém sabe

Ninguém sente

Ninguém toma

Escravo e liberdade

Posted by Ramon S Rosa | Posted in | Posted on 19:50

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Aprendi com o escravo a me escravizar

De tarefas esquecidas antes mesmo

De meu notável eu, cheio de defeitos

Escravo do que eu escrevo.

E aprendi a não aprender sempre.

Porque aprender sempre é não se deixar ver

Experimentar. Viver .

Então Sou escravo do meu escrito

Escravo do meu próprio umbigo

Das minhas tensões, obrigações.

Um escravo da minha tristeza

E escravo de minha gentileza

E escravo do que vocês disserem que o seja.

Aprendi com um escravo que não se aprende obedecendo

Que a dor da obrigação, o mundo de uma sensação

O levaria a liberdade. Não mais escravidão.
Aprendi a doce ilusão do sonho de alguém

Escravo de outrem, que vive para viver esperando

A chegada. A chegada do bem, a liberdade que vem.

Chico e O eu

Posted by Ramon S Rosa | Posted in | Posted on 19:18

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O Chico fez o que tinha feito

Mandou-me embora, pra longe dos seus ventos

Fez a promessa de desalento com meu coração

A vida que passaria eternamente em lentidão

O Chico mal sabia do mal que me fazia

Da dor que transformava

A morte que me causava

O Chico não me via

O Chico deu pra trás

Voltou pra dizer que me faz

Novamente o melhor pra nos trazer de volta

De uma vez para tudo era outra

O Chico não trouxe o coração que feriu

Trouxe consigo certezas mil

De alguém que de si pensou o amor

De alguém que feriu, e não sentiu dor

A procura de Chico é pelo tempo perdido

Pela graça dos risos e de tudo vivido

A sombria lembrança de agir sem pensar

Sem medir circunstância, de deixar de amar.

Chico perdido voltou para si

Sem abraço, afeto, sem nada de mim

O Chico que vi mostrou compaixão

O eu que aprendi, não sabe perdão

Posted by Ramon S Rosa | Posted in | Posted on 19:55

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Ele não está aqui, é assim que escrevo o que sinto
A solidão de um jovem rico, de um dia lindo
De uma fala vazia. De uma sala vazia.
Da TV sempre ligada, dos espaços sempre guardados.
Das falas nunca faladas,
No quarto meio vazio. Na casa meio vazia
No coração vazio. Ele não está aqui.
Estar sozinho ao respirar não muda
Não destrói sentimentos de esperança.
Não reconstrói a vida de uma criança.
Não pacifica o inferno da escuridão.
Não transpõe os tons de uma salvação.

Posted by Ramon S Rosa | Posted in | Posted on 19:37

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Eu juro que ouvi sua voz
De forma clara, baixinha
Mostrando que saudade existia
Onde o amor mantinha
A fé
Não digo que acreditei
Nem que sonhei
Com uma nova chance
Com pessoas retumbantes
Nesse lugar que transforma
A poesia em droga
A troca da fé
O cambalear da fraqueza
O estampar da tristeza
Nas mais diversas lacunas
Nos mais diversos passos.
No frio, na dor que crio.
A voz que ouvi, silencio se fez
A doçura do grito em minha surdez
Da falta de força, vontade e futuro
Do passo incerto, certo inseguro.